Em M3GAN 2.0, a bonequinha robô vira heroína e horror é deixado de lado
- podcastdepoisdoscr
- 17 de jul.
- 3 min de leitura
Em seu novo filme, o diretor Gerard Johnstone aposta no estilo e esquece de vez o terror.
Por Luan Feitosa

Depois do sucesso inesperado do primeiro filme, M3GAN 2.0 chegou aos cinemas prometendo expandir o universo da boneca inteligente mais icônica da nova geração. A continuação do longa, que no passado prometeu terror, segue cativante, mas escorrega ao abandonar de vez a atmosfera inicial que um dia o tornou promissor e interessante.
O original M3GAN chamava atenção por explorar um tema cada vez mais atual, o avanço da inteligência artificial e suas implicações éticas e emocionais. A premissa, uma boneca robótica criada para ser a companhia perfeita de uma criança, rapidamente evoluía para uma distopia doméstica, com a IA ultrapassando limites e questionando sua própria programação.
No centro dessa trama, estava Gemma (Allison Williams), que, ao se ver responsável pela sobrinha órfã Cady (Violet McGraw), desenvolvia a boneca como uma forma de delegar à tecnologia o cuidado que ela própria não se sentia pronta para oferecer uma tentativa de escapar da responsabilidade emocional por meio da inovação. Entre momentos tensos e críticas sociais sutis, o filme encontrava espaço até para um certo humor sombrio. Era essa mistura que o tornava especial.
Já em M3GAN 2.0, o que vemos é uma continuação que tenta surfar no carisma viral da personagem, mas que perde o peso narrativo no processo. O sarcasmo agora é exagerado, as dancinhas ocupam mais espaço do que deveriam e, pior, M3GAN praticamente assume o papel de heroína.
Neste filme, M3GAN precisa enfrentar uma segunda boneca robô chamada Amelia (Ivanna Sakhno), equipada com uma inteligência artificial ainda mais avançada. Amelia foi criada para ser uma arma usada em operações militares dos Estados Unidos, baseada no projeto original da própria M3GAN. Se antes M3GAN era uma ameaça imprevisível, agora ela é quase uma anti-heroína com o desejo de se redimir, uma espécie de Deadpool com circuito infantil que precisa de upgrades para salvar Gemma e Cady, que estão sendo caçadas por Amelia.
É claro que o longa não chega a ser ruim. A produção mantém um padrão técnico sólido, a estética continua caprichada, com efeitos visuais e sonoros que constroem bem o universo alta tecnologia da protagonista. As atrizes que dão vida à boneca, tanto na voz quanto na movimentação, sendo (Amie Donald) nos movimentos e (Jenna Davis) que da voz e personalidade, sustentam o personagem com personalidade. No entanto, essas qualidades não compensam o desvio de tom que frustra quem esperava uma continuação mais ousada ou sombria assim como eu esperava.
M3GAN 2.0 teve uma recepção dividida entre crítica e público. No Metacritic, a nota dos críticos ficou em 54 de 100 com base em 42 avaliações, indicando uma recepção mista. Entre os usuários da plataforma, a média foi de 5.3 em 10, mantendo o tom de avaliações medianas. Já no Rotten Tomatoes, o tomatômetro registrou entre 58% e 62% de aprovação dos críticos, dependendo da atualização, com base em mais de 40 resenhas. No Brasil, o portal CinePOP também apontou 58% de aprovação, reforçando a tendência de avaliações mornas entre os especialistas. Mesmo com esse contraste, o filme segue sendo comentado e assistido, o que mostra que mesmo longe do horror puro, M3GAN ainda sabe como se manter relevante.
M3GAN 2.0 não é um desastre, longe disso. Mas também não é o passo adiante que a franquia merecia. Ao se afastar do terror e abraçar a autoparódia, o filme sacrifica o que tinha de mais interessante, o desconforto real diante de uma inteligência artificial fora de controle. No fim, M3GAN pode até continuar dançando, mas a sensação é de que a trilha sonora certa foi trocada por uma playlist genérica do tiktok. Ela foi de boneca assassina para ícone pop.
Nota do crítico: Três estrelinhas do Letterboxd.
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