Versão cinematográfica do game “Until Dawn” altera enredo e faz mudanças ousadas na história
- podcastdepoisdoscr
- 9 de ago.
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Atualizado: 12 de ago.
Adaptação aposta em novos personagens, trama original e loop temporal para recriar a tensão do game, mas divide opiniões entre fãs.
Por Luan Feitosa

Depois de quase dez anos desde o lançamento do jogo, “Until Dawn” finalmente ganhou sua aguardada adaptação para os cinemas. Mas, diferente do que muitos esperavam, o longa não é uma cópia direta da história original da Supermassive Games. Essa escolha criativa está no centro das reações que vêm agitando a comunidade gamer e os fãs do terror.
Lançado em 2015, o jogo se tornou um sucesso por misturar elementos clássicos de filmes slasher com uma mecânica de escolhas morais. O jogador controlava oito personagens presos em uma cabana nas montanhas, sendo forçado a tomar decisões que poderiam levar qualquer um deles à morte. O enredo era recheado de tensão, reviravoltas e criaturas sobrenaturais, como os temidos Wendigos, além do já famoso efeito borboleta, que fazia pequenas ações moldarem drasticamente os rumos da trama.
O filme, no entanto, segue um caminho próprio. Dirigido por David F. Sandberg (“Annabelle 2: A Criação do Mal”), o longa apresenta uma nova protagonista, Clover, interpretada por Ella Rubin, e um grupo de personagens inéditos que enfrentam eventos misteriosos em Glore Valley, um local diferente da cabana do jogo. A história gira em torno do desaparecimento da irmã de Clover, e a busca por respostas acaba levando o grupo a um centro de visitantes isolado durante uma nevasca. É ali que começam os eventos sobrenaturais e as mortes.
A maior diferença em relação ao jogo está na estrutura narrativa. O filme adota um loop temporal, em que a protagonista revive a mesma noite repetidamente após cada morte. O recurso funciona como uma metáfora para as múltiplas tentativas do jogador no game, mas também como uma mecânica dramática própria, em que Clover precisa aprender com seus erros para quebrar o ciclo. A ideia é ousada e dá ao filme um tom mais psicológico, embora mais distante da proposta direta e brutal do jogo.
Outro ponto que marca essa diferença é a forma como os monstros são apresentados. Enquanto no jogo os Wendigos eram resultados de uma maldição ligada ao canibalismo, no filme a transformação tem origem no trauma e no medo. O Wendigo aqui é menos criatura física e mais símbolo, ainda que apareça em forma monstruosa. Essa abordagem psicológica é reforçada pela presença de Dr. Hill (Peter Stormare), único personagem do jogo que retorna no filme. Se antes ele era uma projeção mental ambígua, agora é o responsável direto pelo experimento por trás dos loops temporais, funcionando como uma figura manipuladora que observa a dor de suas cobaias.
A recepção ao filme tem sido dividida. Muitos fãs reclamam da desconexão com o jogo, dizendo que o longa poderia ser só “um terror genérico com outro nome”. Críticas apontam também a ausência do clima de colegial e do humor ácido que tornavam o game envolvente. Em compensação, há quem valorize a tentativa do filme de não ser só mais uma adaptação literal, apostando em expandir o universo de “Until Dawn” com novos elementos e metáforas visuais.
Visualmente, o filme acerta precisamente A fotografia fria, os cenários gelados e o design das criaturas mantêm o clima opressor que marcou o game. A violência é gráfica, com mortes sangrentas e cenas de tensão bem construídas. Mas, em termos de narrativa, o ritmo mais lento e introspectivo pode afastar quem esperava algo mais direto e próximo dos moldes slasher tradicionais.
No fim das contas, o filme de “Until Dawn” é uma reinvenção. Pode não agradar a todos, especialmente aos fãs mais puristas do jogo, mas mostra que, para além da nostalgia, há espaço para arriscar novos caminhos no cinema de terror inspirado por games. E esse risco, ao menos, faz jus à essência de escolhas difíceis que sempre guiou a franquia.
Nota do crítico: duas estrelinhas no Letterboxd.
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